Galaxy Digital: Da Flutuação à Previsibilidade

Autor: Prathik Desai; traduzido por: Block unicorn

O trator de esteiras está parado sob o calor intenso. A área é desolada, o contrato é incerto, e a ideia de uma empresa de troca de criptomoedas se transformar em uma empresa de energia parece um delírio.

Há um ano, o centro de dados Helios no Texas era apenas uma promessa no deserto.

Hoje, a situação é bem diferente. Embora as turbinas ainda não estejam em funcionamento, o contrato foi assinado e a transação de financiamento foi concluída. O terreno foi arrendado e o transformador foi encomendado. Esta empresa, que antes lucrava com a volatilidade, agora está investindo em certeza.

O relatório trimestral da Galaxy Digital até 30 de setembro de 2025 pode não refletir diretamente essa situação, mas ao observar cuidadosamente os dados do último ano, é possível perceber uma mudança significativa. O departamento de negociação da Galaxy ainda está lidando com transações de bilhões de dólares, mas as tendências nos próximos meses são evidentes para qualquer pessoa que esteja atenta.

Um trimestre após o outro, a Galaxy parece cada vez menos um trader e mais um banqueiro.

Visão Geral dos Pontos-Chave

• O volume de transações da Galaxy atingiu um novo recorde histórico, mas a sua participação nos lucros caiu em comparação com outros setores de negócios.
• A autorização financeira da empresa cresceu 4 vezes em relação ao ano anterior, gerando 40 milhões de dólares em receita recorrente anual, marcando a primeira fonte de receita previsível da Galaxy.
• As receitas do departamento financeiro e empresarial cresceram para 408 milhões de dólares, representando mais de 55% do lucro bruto ajustado total.
• O projeto Helios está programado para ser iniciado no primeiro semestre de 2026, com um contrato de arrendamento da CoreWeave de 15 anos (526MW) e um financiamento de projeto de 1,4 mil milhões de dólares.
• Apesar do forte crescimento dos lucros, as ações da Galaxy Digital Inc. caíram mais de 10%.

O banqueiro do DAT

Há mais de dois meses, discuti como o ruído no escritório da Galaxy mudou: do barulho dos traders ao suave zumbido dos clientes a armazenar fundos ociosos. A Galaxy começou como um projeto secundário para ajudar os emissores de tokens a gerenciar reservas de stablecoins e agora se transformou em auxiliar empresas na gestão de seu portfólio de ativos digitais (DAT).

Nos últimos trimestres, este departamento de negócios criou um fluxo de caixa confiável ao oferecer uma plataforma integrada de custódia, rendimento e liquidez para clientes, incluindo DAOs, bolsas e startups. A Galaxy ajuda esses clientes a construir seus tesouros e a ganhar taxas de pontos em cada nível.

Nos últimos 12 meses, o tamanho do ativo sob gestão deste negócio cresceu mais de quatro vezes, passando de cerca de 1 bilhão de dólares em ativos sob gestão para mais de 4,5 bilhões de dólares atualmente. Embora a receita deste negócio no terceiro trimestre de 2025 possa ser relativamente moderada em comparação com a receita de transações, isso marca uma tendência importante: a transição de um modelo baseado em transações para um modelo baseado em assinaturas. A receita recorrente anual do negócio de gestão de fundos corporativos é de cerca de 40 milhões de dólares, o que significa que representa uma receita contínua a longo prazo, em vez de ganhos esporádicos de transações.

No entanto, a gestão de fundos não está isenta de riscos e não pode escapar das flutuações do mercado. O CEO da Galaxy, Mike Novogratz, reconhece que este negócio oscila com as flutuações do mercado de criptomoedas.

Apesar de enfrentar esses desafios, a trajetória de desenvolvimento é claramente visível. A Galaxy está aprendendo a cada trimestre como desvincular a receita da volatilidade. Embora ainda seja um processo gradual, a situação financeira da empresa indica que ela está no caminho certo.

Embora esta não seja a fonte de renda mais emocionante, para uma empresa que depende do desempenho dos traders para construir sua reputação, é confiável e representa uma mudança estratégica.

Problemas de lucros que geram crises

A maior parte da receita da Galaxy ainda é gerada por métodos antigos, ou seja, cobrando taxas sobre as transações executadas em nome dos clientes. No entanto, a margem de lucro dessa estrutura de taxas ainda é muito baixa, abaixo de 1%.

No último trimestre, escrevi um artigo discutindo o “problema de 0,15%” da empresa - o volume de transações atingiu um recorde histórico, mas o spread era extremamente baixo. Neste trimestre, esse padrão ainda persiste. Embora o volume de transações à vista e de derivativos no departamento de ativos digitais tenha crescido 140% em relação ao ano anterior no terceiro trimestre de 2025, uma grande parte desse volume veio de uma transação de 80.000 BTC vendida em nome dos clientes.

No terceiro trimestre de 2025, o EBITDA ajustado da Galaxy para o departamento de ativos digitais, que ultrapassa 97%, foi de apenas 250 milhões de dólares, representando menos de 45% do total do EBITDA (.

Em comparação, o EBITDA ajustado da divisão de tesouraria e das operações comerciais da empresa foi de 376 milhões de dólares, representando menos de 2% da receita total.

Esta é a crise que a Galaxy decidiu enfrentar: quanto mais liquidez eles oferecem, menos lucro ganham.

Então, como eles resolveram esse problema? Encontraram uma forma de gerar receita. Enquanto outras empresas emitem stablecoins ou usam stablecoins como garantia para empréstimos, a Galaxy se concentra em construir um negócio de gestão de fundos corporativos. Esse modelo não depende tanto de arbitragem ou do timing do mercado, mas sim de parcerias de longo prazo, custódia e taxas recorrentes.

Esta transformação estratégica indica que o crescimento futuro da Galaxy virá mais da prestação de serviços de consultoria de mercado para a DAT, em vez da própria volatilidade do mercado. Embora a receita gerada pela DAT não seja muito alta, mas estável, o próximo grande projeto da empresa - Helios, trará ganhos tangíveis mais significativos e sustentáveis.

Dois grandes motores de rendimento

No oeste do Texas, o calor do deserto não significa mais risco, mas sim oportunidade. Esta empresa, que outrora prosperou devido ao timing perfeito do mercado, agora conquistou contratos, angariou fundos e firmou um acordo com uma das principais empresas de computação em inteligência artificial dos EUA, a CoreWeave. Como inquilina, a CoreWeave compromete-se a fornecer uma garantia de aluguel de 15 anos.

Uma vez totalmente operacional, espera-se que o centro de dados Helios crie mais de 1 bilhão de dólares em receita anual, com uma margem EBITDA de até 90%. Os negócios financeiros e de centros de dados reduzirão gradualmente a dependência da Galaxy em relação ao timing de mercado – uma verdadeira luxúria no volátil setor de criptomoedas.

Esta transformação estratégica visa estabelecer uma base de receita estável que não seja afetada pelas flutuações do mercado.

Resumo

Os investidores devem notar que, embora as negociações ainda sejam o carro-chefe da Galaxy, a receita de taxas e os futuros aluguéis começam a suavizar a curva de flutuação.

Cada empresa de criptomoeda acaba por enfrentar o mesmo dilema: “O que você vai construir quando a empolgação da especulação desaparecer?”

Para a Galaxy, este trimestre marca um ponto de viragem. Criar lucros que apareçam sempre a tempo pode ser a ideia mais aborrecida da empresa de todos os tempos, mas também pode ser a mais transformadora.

Esta análise profunda termina aqui, vemos-nos no próximo artigo.