Tem havido várias dúvidas sobre se esta fase do mercado cripto vai mesmo trazer uma alt season. Há quem aponte janeiro de 2024 ou 2025 como o ponto alto, altura em que os criptoativos não-Bitcoin registaram valorizações expressivas – com muitos a atingirem novos máximos históricos.
Em ciclos anteriores, o forte crescimento do preço do Bitcoin antecipou valorização semelhante (ou até superior) nos criptoativos de menor dimensão. Contudo, nos últimos anos, esse padrão não se confirmou. A dominância do Bitcoin encontra-se atualmente nos 58% e mantém uma tendência de subida desde novembro de 2022.
Será que este ciclo vai deixar passar a alt season? Ou será que ainda não chegou? Ou talvez... estará a alt season já a decorrer noutro segmento do mercado, sem que ninguém repare?
A minha convicção é que é esta última hipótese. O verdadeiro movimento alt season está a acontecer nas ações cripto.
Quais são os fatores que caracterizam um ambiente típico de alt season?
Existe de facto novo capital a procurar exposição ao universo cripto, mas grande parte é institucional e não de investidores de retalho. Os investidores de retalho aderem rapidamente, enquanto as instituições são mais cautelosas e esperam por validação externa. E isso está agora a acontecer. A SEC aprovou em 2024 os ETFs spot de Bitcoin e Ethereum. O chairman Atkin anunciou o Project Crypto. A CEO da Nasdaq, Adena Friedman, tem defendido a tokenização das ações. E há outros exemplos.
As instituições estão presentes e trazem capital fresco. Creio que a maior parte desse dinheiro está a ser canalizado para ações cripto, e não para criptoativos. As ações são um terreno familiar e acessível. As instituições já têm infraestruturas operacionais (custódia, processos de compliance, relações com intermediários, entre outros) prontas, enquanto adquirir criptoativos exige novas competências. E comprar ações enquadra-se nos seus mandatos de investimento – ao contrário dos tokens cripto ou altcoins menos líquidas, que muitas vezes ficam fora do âmbito permitido.
Como resultado, as instituições estão a investir fortemente em ações ligadas à cripto. A Coinbase acumula 53% de valorização desde o início do ano. A Robinhood soma 299%. A Galaxy subiu 100%. A Circle valorizou 368% desde a oferta pública inicial em junho (75% considerando o fecho do primeiro dia). Em comparação, o Bitcoin avançou 31%, o Ethereum 35% e o Solana 21%, o que evidencia a clara vantagem das ações cripto.
O mesmo se verifica avaliando o desempenho desde o mínimo do Bitcoin a 17 de dezembro de 2022:
Há razões para acreditar que esta tendência vai continuar. Vários IPO de ações cripto estão previstos, e muitas empresas em fases avançadas deverão seguir este caminho nos próximos anos.
Tal como numa alt season clássica, nem todos os ativos terão resultados positivos. Antevejo também alguma rotação, com traders a realizarem lucros em ativos sobreavaliados (por exemplo, CRCL a negociar a 26 vezes rácio preço/vendas) para reinvestir esses montantes noutros ativos.
No mercado cripto, surgem diferentes tendências: há fases em que o foco passa dos ativos DeFi para os tokens de gaming ou para moedas de IA. Nas ações será semelhante. Uma alt season em ações cripto pode implicar rotação entre ações de stablecoins, ações de exchanges ou tesourarias de ativos digitais (ou outro segmento).
Há ainda vários motivos para acreditar que esta alt season nas ações cripto poderá assemelhar-se mais aos ciclos históricos do que a eventuais alt seasons futuras nos mercados cripto nativos:
Provavelmente vamos assistir a uma nova alt season em criptoativos nativos, mas será um processo gradual, à medida que novas fontes de capital vão desenvolvendo capacidades operacionais para investir diretamente em criptoativos.
Por isso, talvez não seja a alt season que muitos antecipavam – mas estamos, de facto, numa alt season.
Agradeço a Hootie Rashifard e Mason Nystrom pelos contributos para este artigo.